quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Expo:COLEÇÃO MAM-BA 50 ANOS DE ARTE BRASILEIRA


No próximo dia 18 de dezembro, às 20h, o Museu de Arte Moderna da Bahia abre a exposição Coleção MAM-BA 50 Anos de Arte Brasileira, com 86 obras de seu acervo que ilustram momentos chave da história da arte brasileira nos últimos 60 anos. A exposição ocupa todos os espaços expositivos do Solar do Unhão e se divide em quatro núcleos: Modernistas, Fotografia, Rubem Valentim e Contemporâneos. Uma Linha do Tempo, construída na Galeria Subsolo, contextualiza a história do acervo e do museu.
Com curadoria geral da diretora do MAM, Solange Farkas, a exposição é fruto de um intenso trabalho de pesquisa e restauro do acervo. Ela expande o projeto do livro MAM-BA (Coleção Museus/Instituto Cultural J. Safra, 2008), que dividia a coleção em recortes comentados por curadores: Contemporâneos (Cristana Tejo, da Fundação Joaquim Nabuco), Rubem Valentim (Emanoel Araújo, do Museu Afro Brasil), Fotografia (Rubens Fernandes, da Faap) e Modernistas (a crítica Aracy Amaral).
“A ideia não foi só inventariar o conjunto de obras de arte adquiridas e conservadas pela instituição, mas também compreender em profundidade suas riquezas e lacunas e, sobretudo, apontar caminhos para sua continuidade e expansão”, diz Solange Farkas, diretora e curadora do MAM-BA.
A exposição ficará em cartaz até 28 de março de 2010 e contará com uma intensa programação educativa. A data da abertura foi escolhida em função do Dia do Museólogo, comemorado em 18 de dezembro.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Arte Plumária : índios brasileiros





OBJETIVOS DESTE TRABALHO

Pesquisar sobre a produção plumária indígena brasileira, no âmbito ritualístico, tanto sobre a sua confecção, quanto para a que fim se destinam os adornos plumários.

A ARTE PLUMÁRIA
No Brasil, existem pelo menos 30 grupos indígenas que produzem adornos plumários. Alguns deles: Xavante, Waurá, Juruna, Kaiapó, Tukano, Urubus-Kaapor, Asurini, Karajá.
A arte plumária indígena possui um caráter ritualístico, em dois níveis:

1 - A confecção das peças (modo de fazer): é feita exclusivamente pelos homens, que obedecem a um ritual de caça, coleta, separação, tingimento, corte, amarração, etc.. da matéria-prima, afim de dar uma forma específica a ela.

2 - Finalidade (simbolismo):
. A arte plumária é uma forma de comunicação, de linguagem.Os grupos indígenas ornamentam o corpo em contraposição aos outros seres vivos (animais e outros grupos indígenas). Contrapondo-se os diferentes grupos indígenas cria-se um diferencial, tanto no aspecto interno da tribo quando no externo a estes grupos.
· Extrapolando o conceito de enfeite, a plumária é um símbolo usado em ritos e cerimônias. Pode representar mensagens sobre sexo, idade, filiação (clã), posição social, importância cerimonial, cargo político e grau de prestígio dos seus portadores e possuidores.
· O uso dos objetos plumários é privativo aos homens principalmente nos cerimoniais onde eles possuem um papel mais destacado que as mulheres.

ARTE PLUMÁRIA
Matéria prima + Domínio técnico + Senso estético( beleza ) desenvolvido

Matéria Prima
· Penas - são os maiores elementos da plumagem. Provenientes da cauda e das asas das aves.

· Plumas - cobertura das costas e do abdomen das aves. São menores, largas e arredondadas.

· Penugem - pequenas plumas do pescoço, das costas e do abdomen das aves. Possuem a sua estrutura descontínua.

TÉCNICAS

· Associação da plumagem com outros materiais - fibras vegetais, taquaras, madeiras e a procura da perfeita adequação de efeitos formais, decorativos e técnicos.· Os grupos indígenas possuem técnicas de transformação desta matéria-prima.
Cor
Alteram as cores das penas tingindo-as ou através de um técnica conhecida como Tapiragem, que consiste num processo em que a pena adquire a coloração amarelo-alaranjado. É feita da seguinte forma: os índios arrancam as penas verdes do papagaio e no local esfregam uma secreção leitosa da 'pequena rã'. Assim, as penas, ao crescerem novamente, adquirem a coloração desejada (Tribo Tukano- noroeste da Amazônia).
Forma
Os índios alteram a forma original das penas através de cortes que adquirem formas variadas:Serrilhadas bilateralmente nas bordas, em forma de cálice, espiraladas, retangulares ou triangulares e muitas vezes são apenas aparadas no ápice.
Fixação
Amarração: as penas são fixadas horizontalmente em cordéis com a ajuda de "amarrilhos" ou então amarradas pela base em torno de hastes, roletes e cordéis ou nas extremidades desses suportes. Fixam-se as penas entre si, à trama dos tecidos, às sementes e às unhas de animais.
Colagem: fixação de penas, plumas e penugens. É feita através de resinas sobre superfícies diversas: couro, uma pena maior, tecido trançado, folhas secas, líber, etc... Podem também ser coladas no próprio corpo, conseguindo assim alguns efeitos como: um mosaico de plumas, a emplumação em placa (colagens de peles emplumadas) e a emplumação arminhada (colagem de penugem branca de certas aves enquanto filhotes).
TRIBO DOS URUBUS-KAAPOR

· Uma das tribos mais evoluídas na arte de confecção de adornos plumários.
· Dado ao virtuosismo da execução, a delicadeza das formas e a variedade de tipos de penas e plumas utilizadas, os adornos plumários kaapor já foram definidos como "Jóia de penas".
· Adornos usados no ritual de nominação
Tembetá - ornitoforma, compõe-se de uma pena base de cauda de arara canga, que, na parte inferior, recebe uma incrustação de pele e respectivas plumas de tons azuis e negro. Em sentido diagonal, dispostos em maneira de asas, aparecem fios, destacados das penas mais longas ( da arara). Na parte superior do tembetá aparecem penas azuis em mosaico.
Colar - apito de cúbito de ave. Ladeado por feixes de penas caudais de arara. É utilizado sobre o peito com um pingente que pende sobre o dorso (também ornitofomo).
Braçadeiras - plumas alaranjadas de papo de tucano com uma representação bastante realista de flores.
Brincos, pulseiras e testeira - esta última é revestida internamente por uma fina camada de látex para aderir à pele - confeccionados com penas de saí.
TRIBO DOS KAYAPÓS

· A plumária Kayapó é extremamente variada. Possuem cocares, testeiras, diademas, braçadeiras, pulseiras, bandoleiras, ornamentos, dorsais e flechas.
· Existe uma variedade de ornamentos dentro de um mesmo grupo Kayapó. Os ornamentos variam em forma e tamanho, tornando possível a identificação dos diferentes subgrupos (escala social).
"...apesar de possuírem uma tradição artística comum, cada grupo evoluiu ao longo de orientações estéticas próprias sendo que a criatividade de um artesão anônimo levou a novas expressões artísticas." (VIDAL in "Arte plumária do Brasil", p. 32)

RITUAIS
· A plumária kayapó é usada nos rituais de iniciação masculina e nominação, no casamento e na paramentação dos mortos nos rituais funerários.
· A ornamentação plumária se relaciona com a vida cerimonial dos kayapós, enquanto no cotidiano o que prevalece como ornamentação do corpo são as pinturas.
· Os ornamentos possuem grande simbolismo para os kayapós. Por exemplo: para um sub-grupo kayapó (kayapó-xikrim) os objetos de plumária podem representar um olho, sendo as penas utilizadas em pestanas. Ou o sol, onde as penas representam os raios.

Conclusão:
Dos costumes indígenas, a arte ornamental (plumária e pintura corporal) é a mais prejudicada pelo contato com o homem branco. Os adornos plumários, hoje, são muito mais objetos confeccionados para venda ou troca com os visitantes das tribos do que para o próprio uso, como foram no passado. Ainda assim, apesar de deturpada, a produção de artefatos, que visa o comércio, ajuda na preservação dessa arte.
A produção desse "comércio para turismo" gerou uma tendência a priorizar a quantidade em detrimento da técnica e do seu conteúdo simbólico.

BIBLIOGRAFIA:

ARTE PLUMÁRIA NO BRASIL, 1980, Brasília: Fundação Pró-Memória, 1980. 78p. ( Catálogo de Exposição).

ARTE INDÍGENA



A arte da Pré-História brasileira

O Brasil possui valiosos sítios arqueológicos em seu território, embora nem sempre tenha sabido preservá‑los. Em Minas Gerais, por exemplo, na região que abrange os municípios de Lagoa Santa, Vespasiano, Pedro Leopoldo, Matosinhos e Prudente de Moraes, existiram grutas que traziam, em suas pedras, sinais de uma cultura pré‑histórica no Brasil. Algumas dessas grutas, como a chamada Lapa Vermelha, foram destruídas por fábricas de cimento que se abasteceram do calcário existente em suas entranhas. Além dessas cavernas já destruídas, muitas outras encontram‑se seriamente ameaçadas.
Das grutas da região, a única protegida por tombamento do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) é a gruta chamada Cerca Grande. Ela é considerada importante monumento arqueológico por causa de suas pinturas rupestres e de fósseis descobertos em seu interior, indicadores de antigas culturas existentes em nosso país.

Naturalismo e Geometrismo: as duas faces da arte rupestre no Brasil

No sudeste do Estado do Piauí, município de São Raimundo Nanato, há um importante sítio arqueológico onde, desde 1970, diversa pesquisadores vêm trabalhando.
Em 1978, uma missão franco‑brasileira coletou uma grande quantidade de dados e vestígios arqueológicos. Esses cientistas chegaram conclusões esclarecedoras a respeito de grupos humanos que habitaram a região por volta do ano 6 000 a.C., ou talvez numa época mais remata ainda. Segundo as pesquisas, os primeiros habitantes da área de São Raimundo Nonato ‑ provavelmente caçadores‑coletores, nômades e seminômades ‑ utilizavam as grutas da região como abrigos ocasionais A hipótese mais aceita, portanto, é a de que esses homens foram os autores das obras pintadas e gravadas nas grutas da região.
Os pesquisadores classificaram essas pinturas e gravuras em dois grandes grupos: obras com motivos naturalistas e obras com motivos geométricos. Entre as primeiras predominam as representações de figuras humanas que aparecem ora isoladas, ora participando de um grupo, em movimentadas cenas de caça, guerra e trabalhos coletivos. No grupo dos motivos naturalistas, encontram‑se também figuras de animais, cujas representações mais freqüentes são de veados, onças, pássaros diversos, peixes e insetos.
As figuras com motivos geométricos são muito variadas: apresestam linhas paralelas, grupos de pontos, círculos, círculos concêntrico, cruzes, espirais e triângulos.
A partir do estudo dos vestígios arqueológicos encontrados em São Raimundo Nonato, os estudiosos levantaram a hipótese da existência de um estilo artístico denominado Várzea Grande). Esse estilo tem como característica a utilização preferencial da cor vermelha, o predomínio dos motivos naturalistas, a representação de figuras antropomorfas e zoomorfas (com corpo totalmente preenchido e os membros desenhados com traços) e a abundância de representações animais e humanas de perfil. Nota‑se também a freqüente presença de cenas em que participam numerosas personagens, com temas variados e que expressam grande dinamismo.
As pesquisas científicas de antigas culturas que existiram no Brasil, a partir das descobertas realizadas no sudeste do Piauí, abrem uma perspectiva nova tanto para a historiografia como para a arte brasileiras. Esses fatos nos permitem ver mais claramente que a história de nosso país está ligada à história do mundo todo, e que as nossas raízes são muito mais profundas do que o limite inicial de uma data, no tão próximo século XV.


Na época do descobrimento, havia em nosso país cerca de 5 milhões de índios. Hoje, esse número caiu para aproximadamente 200 000. Mas essa brutal redução numérica não é o único fator a causar espanto nos pesquisadores de povos indígenas brasileiros. Assusta‑os também a verificação da constante ‑ e agora já acelerada ‑destruição das culturas que criaram, através dos séculos, objetos de uma beleza dinâmica e alegre.

Uma arte utilitária

A Primeira questão que se coloca em relação à arte indígena é defini­-la ou caracterizá‑la entre as muitas atividades realizadas pelos índios
Quando dizemos que um objeto indígena tem qualidades artísticas, podemos estar lidando com conceitos que são próprios da nossa civilização, mas estranhos ao índio. Para ele, o objeto precisa ser mais perfeito na sua execução do que sua utilidade exigiria. Nessa perfeição para além da finalidade é que se encontra a noção indígena de beleza. Desse modo, um arco cerimonial emplumado, dos Bororo, ou um escudo cerimonial, dos Desana podem ser considerados criações artísticas porque são objetos cuja beleza resulta de sua perfeita realização.
Outro aspecto importante a ressaltar: a arte indígena é mais representativa das tradições da comunidade em que está inserida do que da personalidade do indivíduo que a faz. É por isso que os estilos da pintura corporal, do trançado e da cerâmica variam significativamente de uma tribo para outra.

O período pré-cabralino: a fase Marajoara e a cultura Santarém

A Ilha de Marajó foi habitada por vários povos desde, provavelmente, 1100 a.C. De acordo com os progressos obtidos, esses povos foram divididos em cinco fases arqueológicas. A fase Marajoara é a quarta na seqüência da ocupação da ilha, mas é sem dúvida a que apresenta as criações mais interessantes.

A fase Marajoara

A produção mais característica desses povos foi a cerâmica, cuja modelagem era tipicamente antropomorfa. Ela pode ser dividida entre vasos de uso doméstico e vasos cerimoniais e funerários. Os primeiros são mais simples e geralmente não apresentam a superfície decorada. Já os vasos cerimoniais possuem uma decoração elaborada, resultante da pintura bicromática ou policromática de desenhos feitos com incisões na cerâmica e de desenhos em relevo.
Dentre os outros objetos da cerâmica marajoara, tais como bancos, colheres, apitos e adornos para orelhas e lábios, as estatuetas representando seres humanos despertam um interesse especial, porque levantam a questão da sua finalidade. Ou seja, os estudiosos discutem ainda se eram objetos de adorno ou se tinham alguma função cerimonial. Essas estatuetas, que podem ser decoradas ou não, reproduzem as formas humanas de maneira estilizada, pois não há preocupação com uma imitação fiel da realidade.
A fase Marajoara conheceu um lento mas constante declínio e, em torno de 1350, desapareceu, talvez expulsa ou absorvida por outros povos que chegaram à Ilha de Marajó.

Cultura Santarém

Não existem estudos dividindo em fases culturais os povos que ao longo do tempo habitaram a região próxima à junção do Rio Tapajós com o Amazonas, como foi feito em relação aos povos que ocuparam a Ilha de Marajó. Todos os vestígios culturais encontrados ali foram considerados como realização de um complexo cultural denominado "cultura Santarém".
A cerâmica santarena apresenta uma decoração bastante complexa, pois além da pintura e dos desenhos, as peças apresentam ornamentos em relevo com figuras de seres humanos ou animais.
Um dos recursos ornamentais da cerâmica santarena que mais chama a atenção é a presença de cariátides, isto é, figuras humanas que apóiam a parte superior de um vaso
Além de vasos, a cultura Santarém produziu ainda cachimbos, cuja decoração por vezes já sugere a influência dos primeiros colonizadores europeus, e estatuetas de formas variadas. Diferentemente das estatuetas marajoaras, as da cultura Santarém apresentam maior realismo, pois reproduzem mais fielmente os seres humanos ou animais que representam.
A cerâmica santarena refinadamente decorada com elementos em relevo perdurou até a chegada dos colonizadores portugueses. Mas, por volta do século XVII, os povos que a realizavam foram perdendo suas peculiaridades culturais e sua produção acabou por desaparecer.

As culturas indígenas

Apesar de terem existido muitas e diferentes tribos, é possível identificar ainda hoje duas modalidades gerais de culturas indígenas: a dos silvícolas, que vivem nas áreas florestais, e a dos campineiros, que vivem nos cerrados e nas savanas.
Os silvícolas têm uma agricultura desenvolvida e diversificada que, associada às atividades de caça e pesca, proporciona‑lhes uma moradia fixa. Suas atividades de produção de objetos para uso da tribo também são diversificadas e entre elas estão a cerâmica, a tecelagem e o trançado de cestos e balaios.
Já os campineiros têm uma cultura menos complexa e uma agricultura menos variada que a dos silvícolas. Seus artefatos tribais são menos diversificados, mas as esteiras e os cestos que produzem estão entre os mais cuidadosamente trançados pelos indígenas.
É preciso não esquecer que tanto um grupo quanto outro conta com uma ampla variedade de elementos naturais para realizar seus objetos: madeiras, caroços, fibras, palmas, palhas, cipós, sementes, cocos, resinas, couros, ossos, dentes, conchas, garras e belíssimas plumas das mais diversas aves. Evidentemente, com um material tão variado, as possibilidades de criação são muito amplas, como por exemplo, os barcos e os remos dos Karajá, os objetos trançados dos Baniwa , as estacas de cavar e as pás de virar beiju dos índios xinguanos.
A tendência indígena de fazer objetos bonitos para usar na vida tribal pode ser apreciada principalmente na cerâmica, no trançado e na tecelagem. Mas ao lado dessa produção de artefatos úteis, há dois aspectos da arte índia que despertam um interesse especial. Trata‑se da arte plumária e da pintura corporal, que veremos mais adiante.
A arfe do trançado e da tecelagem
A partir de uma matéria‑prima abundante, como folhas, palmas, cipós, talas e fibras, os índios produzem uma grande variedade de pe, cestos, abanos e redes .Da arte de trançar e tecer, Darcy Ribeiro destaca especialmente algumas realizações indígenas como as vestimentas e as máscaras de entrecasca, feitas pelos Tukuna e primorosamente pintadas; as admiráveis redes ou maqueiras de fibra de tucum do Rio Negro; as belíssimas vestes de algodão dos Paresi que também, lamentavelmente, só se podem ver nos museus.

Cerâmica

As peças de cerâmica que se conservaram testemunham muitos costumes dos diferentes povos índios e uma linguagem artística que ainda nos impressiona. São assim, por exemplo, as urnas funerárias lavradas e pintadas de Marajó, a cerâmica decorada com desenhos impressos por incisão dos Kadiwéu, as panelas zoomórficas dos Waurá e as bonecas de cerâmica dos Karajá.

Plumária

Esta é uma arte muito especial porque não está associada a nenhum fim utilitário, mas apenas à pura busca da beleza.
Existem dois grandes estilos na criação das peças de plumas dos índios brasileiros. As tribos dos cerrados fazem trabalhos majestosos e grandes, como os diademas dos índios Bororo ou os adornos de corpo, dos Kayapó.
As tribos silvícolas como a dos Munduruku e dos Kaapor fazem peças mais delicadas, sobre faixas de tecidos de algodão. Aqui, a maior preocupação é com o colorido e a combinação dos matizes. As penas geralmente são sobrepostas em camadas, como nas asas dos pássaros.Esse trabalho exige uma cuidadosa execução
Máscaras
Para os índios, as máscaras têm um caráter duplo: ao mesmo tempo que são um artefato produzido por um homem comum, são a figura viva do ser sobrenatural que representam Elas são feitas com troncos de árvores, cabaças e palhas de buriti e são usadas geralmente em danças cerimoniais, como, por exemplo, na dança do Aruanã, entre os Karajá, quando representam heróis que mantêm a ordem do mundo.

A pintura corporal

As cores mais usadas pelos índios para pintar seus corpos são o vermelho muito vivo do urucum, o negro esverdeado da tintura do suco do jenipapo e o branco da tabatinga. A escolha dessas cores é importante, porque o gosto pela pintura corporal está associado ao esforço de transmitir ao corpo a alegria contida nas cores vivas e intensas.
São os Kadiwéu que apresentam uma pintura corporal mais elaborada Os primeiros registros dessa pintura datam de 1560, pois ela impressionou fortemente o colonizados e os viajantes europeus. Mais tarde foi analisada também por vários estudiosos, entre os quais Lévi‑Strauss, antropólogo francês que esteve entre os índios brasileiros em 1935.
De acordo com Lévi‑Strauss, "as pinturas do rosto conferem, de início, ao indivíduo, sua dignidade de ser humano; elas operam a passagem da natureza à cultura, do animal estúpido ao homem civilizado. Em seguida, diferentes quanto ao estilo e à composição segundo as castas, elas exprimem, numa sociedade complexa, a hierarquia dos status. Elas possuem assim uma função sociológica."
Os desenhos dos Kadiwéu são geométricos, complexos e revelam um equilíbrio e uma beleza que impressionam o observador. Além do corpo, que é o suporte próprio da pintura Kadiwéu, os seus desenhos aparecem também em couros, esteiras e abanos, o que faz com que seus objetos domésticos sejam inconfundíveis.

Fonte de pesquisa :História da ArteProença, Graça

domingo, 13 de dezembro de 2009

Um cotidiano de imagem


Um cotidiano de imagens

No século XXI, a leitura e a interpretação de informações visuais são conteúdos que precisam ser trabalhados desde a Educação Infantil


Pela manhã, ao se arrumar para ir à escola, o jovem coloca a roupa, escolhendo, entre as diversas opções, a camiseta mais transada. A garota põe no cabelo várias presilhas coloridas, enche-se de bijuterias e pega sua mochila com bordados aplicados e chaveiros pendurados, onde guarda os cadernos com capas multicoloridas. No caminho, ambos passam por outdoors, carros de diversos modelos, construções de estilos variados... Nos momentos de lazer, crianças e adolescentes interagem com imagens em videogames e no computador, absorvem de maneira quase transcendental o que passa nas telas da televisão e do cinema, navegam diariamente na internet cheia de signos visuais. Nos livros, nas revistas e no celular... figuras, formas e cores desfilam à sua frente.

As imagens, estáticas ou em movimento, chamam a atenção, seduzem, hipnotizam e convencem os que as observam com inocência. Vivendo na era da visualidade, os alunos são capturados por elas, mas será que eles analisam, interpretam e são críticos em relação a elas? Conseguem apreciá-las como um produto da cultura contemporânea? E ao produzir as próprias peças visuais, será que as enxergam como uma maneira de se expressar? As respostas para essas perguntas nem sempre são positivas. Torna-se necessário, então, conhecer uma nova gramática: a que leva a criança a aprender a ler e a interpretar o código visual usado nas artes, nas manifestações populares e na mídia, assim como o que ensina a ler e a escrever palavras. Nesse sentido, as artes visuais voltam a ocupar um lugar importante no currículo escolar, sendo vistas como uma parte do conhecimento construído pelo homem desde sempre. Em sala de aula, o principal objetivo é articular criação, imaginação e produção com a percepção dos próprios trabalhos e a análise de obras, assim como garantir acesso à produção artística e estética da humanidade. Ao fazer um desenho ou pintura, dar forma a um material bruto, captar imagens com uma câmera fotográfica ou de vídeo e criar animações no computador, o artista expressa sua experiência de vida e sintetiza sentimentos, ansiedades e expectativas da época em que vive, unindo conhecimentos e técnicas a um estilo pessoal. Quem aprecia e analisa as produções se emociona, estabelece ligações da obra com sua vida e se relaciona com ela de modo único, já que em Arte não existe certo ou errado: ela permite as mais diversas interpretações e os mais diferentes sentimentos, dependendo de quem a vê. A Arte convida para uma leitura do mundo e do ser humano, da própria vida. Ao garantir a presença constante das artes visuais no cotidiano dos estudantes, você os leva a superar aquele olhar "naturalizado" tão com

um nos dias de hoje, aquele que não interroga o que vê.


"A grandeza da verdadeira Arte consiste em captar, fixar e revelarnos a realidade longe da qual vivemos, da qual nos afastamos cada vez mais à medida que aumentam a espessura e a impermeabilidade das noções convencionais que se lhe substituem, esta realidade que corremos o risco de morrer sem conhecer: a nossa própria vida"

Marcel Proust (18711922), escritor francês


Na escola Educação Infantil


Na creche e na pré-escola, a criança precisa ser orientada a:

• Manipular diferentes materiais, explorando as diversas possibilidades de uso.

• Utilizar materiais gráficos e plásticos sobre diferentes superfícies.

• Interessar-se pela própria produção, pela dos colegas e de artistas regionais, nacionais e internacionais.

• Produzir desenhos, pintura, modelagem, colagem e construção, desenvolvendo o gosto pelo processo de produção e criação.


Ensino Fundamental


O aluno de 1a a 8a série precisa aprender a:

• Atribuir sentido às manifestações visuais do meio em que está inserido.

• Compreender a imagem como elemento constitutivo da cultura contemporânea.

• Conviver com produções visuais e suas concepções estéticas, assim como valorizar e respeitá-las.

• Identificar os significados das formas visuais, as técnicas e os procedimentos artísticos das obras.

• Observar, estudar e compreender diferentes produções.

• Fazer registros visuais expressando idéias, emoções e sensações por meio da poética pessoal em trabalhos individuais e em grupo.

• Saber utilizar fontes de pesquisa no mundo das artes. • Interagir com vários materiais, sabendo usá-los nas diversas experimentações.

• Produzir desenhos, pinturas, colagens, gravuras, construções, esculturas, instalações, fotografias, filmes, vídeos, meios eletrônicos, design, artes gráficas e outros em diversos espaços. • Apreciar as formas visuais presentes nos trabalhos dos colegas e dos artistas em geral.

• Conhecer e ler as diversas imagens fotográficas, cinematográficas, impressas, televisivas e digitais.

• Descobrir, observar e criticar elementos e formas visuais na configuração do meio ambiente construído.

Fonte: Parâmetros Curriculares Nacionais
Quer saber mais?
Bibliografia

• Arte ao Redor do Mundo (quatro volumes), Antony Mason, 48 págs. cada, Ed. Callis, tel. (11) 30685600, 23 reais cada volume

• Arte Brasileira (cinco volumes), Percival Tirapeli, 80 págs., Cia. Ed. Nacional, tel. (11) 60997799, 23 reais cada volume

• Arte Brasileira para Crianças, Marilyn Diggs Mange, 80 págs., Ed. Martins Fontes, tel. (11) 32598836, 24,50 reais

• Arte e Sociedade no Brasil (três volumes), Aracy Amaral e André Toral, 48, 56 e 48 págs., Ed. Callis, 23 reais cada volume

• Como Usar o Cinema na Sala de Aula, Marcos Napolitano, 249 págs., Ed. Contexto, tel. (11) 38325838, 35 reais

• Conexões! Arte, Caroline Grimshaw, 32 págs., Ed. Callis, 15 reais • Cultura Visual, Mudança Educativa e Projeto de Trabalho, Fernando Hernandez, 262 págs., Ed. Artmed, tel. 08007033444, 44 reais

• Descobrindo a História da Arte, Graça Proença, 248 págs., Ed. Ática, tel. 0800115152, 54,90 reais

• Didática do Ensino de Arte – A Língua do Mundo, Mirian Celeste Martins e outros, 197 págs., Ed. FTD, tel. (11) 32535011, 61,70 reais

• Explicando a Arte: Uma Iniciação para Entender e Apreciar as Artes Visuais, Jô Oliveira, 152 págs., Ed. Ediouro, tel. (21) 38828416, 54 reais

• Inquietações e Mudanças no Ensino de Arte, Ana Mae Barbosa (org.), 184 págs., Ed. Cortez, tel. (11) 38737111, 24 reais

• O Livro de Arte Para Criança, Amanda Renshaw (org.), 80 págs., Ed. Artmed, 68 reais

• O Que É Fotografia (Col. Primeiros Passos), Claudio Kubrusly, 110 págs., Ed. Brasiliense, tel. (11) 61981488, 16 reais

• O Que É Graffiti (Col. Primeiros Passos), Celso Gitahy, 86 págs. Ed. Brasiliense, 16 reais

• Para Gostar de Aprender Arte – Sala de Aula e Formação de Professores, Rosa Iavelberg, 128 págs., Ed. Artmed, 36 reais

• Pequena Viagem pelo Mundo da Arquitetura, Hildegard Feist, 88 págs., Ed. Moderna, tel. 0800172002, 36,50 reais

Leitura de Imagens


Um mundo de imagens para ler


Ao desvendar o universo visual de seu cotidiano, o aluno vai conhecer melhor a si mesmo, compreender sua cultura e ampliá-la com a de outros tempos e lugares


Por Paola Gentile

Experimente contar quantas imagens você vê diariamente. São construções em diversos estilos, carros de vários modelos, pessoas vestidas cada uma a seu gosto. Há ainda a poluição visual das cidades, com propagandas e pichações, a televisão, a internet, as fotos de jornais e revistas... Alunos e alunas usam adereços nos cabelos e enfeitam cadernos com ilustrações de todo tipo. Muitas vezes isso passa despercebido e parece não ter sentido. Ledo engano. Esses elementos visuais estão carregados de informações sobre nossa cultura e o mundo em que vivemos. Portanto, têm muito a ensinar.A cultura visual — nome desse novo campo de estudo — propõe que as atividades ligadas à Arte passem a ir além de pinturas e esculturas, incorporando publicidade, objetos de uso cotidiano, moda, arquitetura, videoclipes e tantas representações visuais quantas o homem é capaz de produzir. Trata-se de levar o cotidiano para a sala de aula, explorando a experiência dos estudantes e sua realidade.Essa "alfabetização visual" dará ao aluno condições de conhecer melhor a sociedade em que vive, interpretar a cultura de sua época e tomar contato com a de outros povos. Mais: ele vai descobrir as próprias concepções e emoções ao apreciar uma imagem. "O professor tem de despertar o olhar curioso, para o aluno desvendar, interrogar e produzir alternativas frente às representações do universo visual", afirma Fernando Hernández, professor da Faculdade de Belas Artes de Barcelona, na Espanha.

A Teoria

O arte-educador e pesquisador norte-americano Elliot Eisner escreveu que o ensino se torna mais abrangente quando utiliza representações visuais, pois elas permitem a aprendizagem de tudo o que os textos escritos não conseguem revelar. Com base nisso, um grupo de pesquisadores norte-americanos passou, nos anos 1990, a estudar a ligação da Arte com a Antropologia. Ganhou o nome de cultura visual e hoje envolve também Arquitetura, Sociologia, Psicologia, Filosofia, Estética, Semiótica, Religião e História. Fernando Hernández é hoje um dos principais pesquisadores do assunto. Ele destaca que estamos imersos numa avalanche de imagens e que é preciso aprender a lê-las e interpretá-las para compreender e dar sentido ao mundo em que vivemos. Assim, crianças e adolescentes serão capazes de analisar os significados da imagem, os motivos que levaram à sua realização, como ela se insere na cultura da época, como é consumida pela sociedade e as técnicas utilizadas pelo autor. Na escola, isso significa que o ensino de Arte ganha uma perspectiva mais profunda. De conhecedor de artistas e estilos, o aluno passar a ser leitor, intérprete e crítico de todas imagens presentes em seu cotidiano.

Princípios da leitura : Observar, produzir, avaliar

O ponto de partida para quem quer trabalhar a cultura visual é ficar atento no mundo à sua volta. Conhecer os objetos que fazem parte da realidade dos alunos e perceber quais são importantes para eles. E, claro, planejar as atividades conforme o projeto pedagógico da escola. Ao escolher os temas de estudo, dê preferência às imagens que façam sentido para os estudantes. O espanhol Fernando Hernández propõe alguns critérios. As representações devem ser inquietantes, estar relacionadas com valores comuns a outras culturas, refletir o anseio da comunidade, estar abertas a várias interpretações, ter sentido para a vida das pessoas, expressar valores estéticos, fazer com que o espectador pense, não apenas ser a expressão do narcisismo do artista, olhar para o futuro e não estar obcecadas pela idéia de novidade."Antes de apresentar determinada imagem à turma, observe-a atentamente e pergunte a si mesmo quais as possibilidades de ensino que ela oferece", ressalta Teresinha Franz, professora de Arte e Design da Universidade do Estado de Santa Catarina e da Fundação Catarinense de Cultura. Na sala de aula, abra o leque de opções. Levante questões para toda a classe. É provável que surjam outras abordagens, igualmente ricas para o aprendizado (leia mais abaixo no texto Representação da época e da cultura).Se preferir estudar um objeto, ressalte que aquela peça contém várias informações, pode revelar novas culturas e estabelecer relações entre povos, lugares e tempos. Mirian Celeste Martins, professora do Instituto de Arte da Universidade Estadual Paulista e do Espaço Pedagógico, sugere criar uma expectativa na turma "lançando questões provocativas ou apresentando representações diversas do tema que será trabalhado". Uma página de publicidade de revista pode levar a um passeio pelos quatro cantos do planeta. Um bom jeito de trabalhar é pedir que cada aluno monte uma pasta, tipo portfólio, para registrar os passos do projeto — as impressões sobre cada tarefa são essenciais. No início todos podem escrever uma redação ou um relatório contando o que já sabem sobre o tema. Ao longo das aulas, comentários devem acompanhar a produção diária (que podem ser desenhos, textos, esculturas...). No final os alunos podem comparar o que sabiam no início do trabalho com o que aprenderam. Você também vai ter uma visão geral do aprendizado na hora de avaliar.

Imagens efêmere

As imagens em movimento (televisão, videoclipe, videogame, internet, cinema etc.) são chamadas de "efêmeras". Por isso, devem ser trabalhadas de maneira especial na escola. Gisa Picosque, especialista em Artes Cênicas e consultora de cursos de formação de professores, sugere que o professor analise e interprete as informações que os alunos memorizaram. Essa seleção mental já revela muito. "É um momento rico para conhecer os estudantes — e eles a si mesmos — por meio das sensações que as imagens provocaram", ressalta.Cabe ao professor conhecer os filmes, programas, sites e jogos preferidos dos jovens — e levá-los a abandonar a posição de espectadores passivos. Pergunte sobre as emoções e sensações provocadas; com quais personagens ou situações a garotada se identifica (e quais provocam estranhamento). Que objetos, personagens e situações são mais marcantes? Por quê?Em seguida organize as respostas, localize essa produção visual no tempo e no espaço e oriente a classe a realizar as pesquisas necessárias.

O visual da escola

Os estudos sobre cultura visual mostram que as imagens presentes em nosso cotidiano são fundamentais na formação de uma cultura crítica nas crianças e nos jovens. Como a escola é, desde cedo, um dos principais espaços freqüentados por eles, ela ajuda (ou atrapalha) no processo de alfabetização visual. Por isso, antes de colar algo na parede de sala, pense: o que esse desenho, foto, mural ou cartaz vai representar para meus alunos? "O educador precisa evitar oferecer aos estudantes um espaço carregado de significados preestabelecidos", afirma Fernando Hernández.O alerta vale principalmente para as classes de Educação Infantil. A pretexto de oferecer um ambiente "familiar", é comum ver as salas decoradas com personagens de histórias infantis e de desenhos animados. Os especialistas garantem que isso só ajuda a cristalizar estereótipos nos pequenos — e não auxilia em nada no trabalho de educar o olhar. "O ideal é que os espaços sejam preenchidos com representações criadas pelas próprias crianças", diz Irene Tourinho, vice-coordenadora do curso de pós-gradução em Cultura Visual da Universidade Federal de Goiás. Uma idéia: professores e alunos podem levar objetos importantes para eles (brinquedos, objetos de uso pessoal ou da decoração de casa etc.) e montar uma exposição para que todos observem e troquem informações sobre a importância de cada peça para seu dono, um trabalho ao mesmo tempo único e enriquecedor.

Representação da época e da cultura

Loris Gruginski, de Florianópolis, decidiu mostrar a seus alunos de 8ª série da Escola Estadual de Ensino Básico Padre Anchieta como a cultura visual pode ser um instrumento de cidadania e uma forma de expressão estética. Escolheu um quadro do conterrâneo Victor Meirelles e definiu um objetivo: estudar a cidade pelos olhos do pintor. "Os artistas representam sua época e sua cultura. Nós também podemos ser representantes de nossa época e de nossa cultura", diz. Ao iniciar o trabalho, porém, os estudantes se interessaram também pela moda do século 19, revelando um olhar surpreendente (e mais detalhado) sobre o tema.Antes de visitar o museu dedicado a Meirelles, Loris levou gravuras para a sala de aula e mergulhou com a turma na obra do pintor. Conhecer como era a cidade 200 anos antes fez a garotada abrir os olhos para a realidade. "Todos passaram e se preocupar com o bairro em que vivem e seu entorno." A professora, então, selecionou imagens da cidade e pediu que os jovens fizessem novos quadros dos mesmos locais. Os desenhos e guaches produzidos foram colocados num grande painel, na escola. Como a moda era também tema de estudos do artista, muitos quiseram se aprofundar nesse aspecto. Uma parceria com uma universidade local permitiu criar oficinas de confecção de roupas e deu origem a uma série de pesquisas sobre a importância da indústria têxtil para a economia de Santa Catarina — ontem e hoje.
Roteiro para o olhar

O pesquisador norte-americano Robert William Ott, da Penn State University, criou o seguinte roteiro para treinar o olhar sobre obras de arte, mas ele pode ser adaptado a atividades ligadas à cultura visual. O diferencial é fazer sempre a relação com a realidade do aluno:


1) Descrever


Para aproveitar tudo o que uma imagem pode oferecer, os olhos precisam percorrer o objeto de estudo com atenção. Dê um tempo para a obra se "hospedar" no cérebro. Em sala de aula, peça que todos descrevam o que vêem e elaborem um inventário.


2) Analisar


É hora de perceber os detalhes. As perguntas feitas pelo professor devem ter por objetivo estimular o aluno a prestar atenção na linguagem visual, com seus elementos, texturas,dimensões, materiais, suportes e técnicas.


3) Interpretar


Um turbilhão de idéias vai invadir a classe e você precisa estar atento a todas elas, para aproveitar as diversas possibilidades pedagógicas. Liste-as e eleja com a turma as que correspondam aos objetivos de ensino. Meninos e meninas devem ter espaço para expressar as próprias interpretações, bem como sentimentos e emoções. Mostre outras manifestações visuais que tratem do mesmo tema e estimule-os a fazer comparações (cores, formas, linhas, organização espacial etc.).


4) Fundamentar


Levantadas as questões que balizarão o trabalho, é tarefa dos estudantes buscar respostas.Elabore junto com eles uma lista com os aspectos que provocam curiosidade sobre a obra, o autor, o processo de criação, a época etc. Ofereça textos de diversas áreas do conhecimento para pesquisa e indique bibliografia e sites para consulta, selecionando os textos de acordo com os interesses e o nível de conhecimento da classe.


5) Revelar


Com tantas novidades e aprendizados, a turma certamente estará estimulada a produzir. Discuta com todos como gostariam de expor as idéias que agora têm. Quais são essas idéias e como comunicá-las? É hora criar, desenhar, escrever, fazer esculturas, colagens...

Exercício


A consultora Mirian Celeste Martins mostra, a seguir, como observar objetos do cotidiano e aprender com eles. Neste exemplo ela usou xícaras. Se você escolher outros materiais para explorar com seus alunos, é preciso adaptar as questões. O primeiro passo é fazer uma descrição detalhada, para conhecer as características e funções. Em seguida passe às perguntas.
· Em sua casa as pessoas têm o hábito de tomar café e/ou oferecê-lo às visitas?


· Quais as semelhanças e diferenças entre as xícaras da ilustração acima ?Descreva-as.


· Para que serve cada um de seus elementos?


. Por que foram desenhados assim?


· Todas estas xícaras são utilizadas hoje? Onde? Por quem?


· É possível estimar em que época elas foram feitas? Quais elementos levam a essas hipóteses? Por quem foram produzidas? Em que época?


· O que essas imagens provocam em você? Perceba suas emoções e sensações.


· Como seu corpo reage às três xícaras e à obra de Regina Silveira?


· O que podemos pensar sobre os hábitos de nossa cultura?


· Outros povos têm costume de tomar café? Eles produzem outros tipos de xícara?


· Por que os americanos tomam a bebida em xícaras grandes? Por que os árabes costumam ler a borra do café que fica no fundo da xícara?


· Como seria nosso auto-retrato como xícara? Que tipo de xícara seríamos?


· O que se pode criar com base nas imagens acima? É possível inventar histórias para cada uma, criar personagens com as mesmas características das xícaras? Escrever, desenhar, dramatizar, dançar, esculpir uma cena dessa história? Criar um novo desenho de xícara, pensando em quem tem um grande bigode ou um enorme nariz?

Grande viagem cultural

No início do ano passado, Célia Maria Meirelles começou a estudar a formação do povo brasileiro por meio da arte com suas turmas de 7ª série na Escola Municipal Governador Ildo Meneghetti, em Porto Alegre. Ninguém imaginava que o trabalho se estenderia por mais de um ano — só está previsto para terminar em junho. Tudo começou com um anúncio que a professora viu numa revista. A página, dividida em quatro faixas horizontais (nas cores vermelha, amarela, branca e preta), tinha os dizeres: "Quando você mistura as cores das quatro raças, você tem a cor da Terra". Ela usou o material para cutucar a garotada e convidar todos para uma longa viagem cultural.Antes do embarque, uma reflexão sobre a palavra viagem, ilustrada com imagens de jornais e revistas. Os alunos descreveram e justificaram suas escolhas, falaram sobre as sensações ao apreciar os trabalhos — que foram usados para encapar o "diário de bordo", portfólio que registra os passos do aprendizado. A primeira escala foi no Brasil antes da chegada dos portugueses. Os jovens estudaram o significado das formas geométricas presentes nas pinturas corporais e em cestas e potes. Em seguida produziram peças de cerâmica e madeira.Aproveitando o interesse provocado pela Copa do Mundo na Coréia do Sul e no Japão, a Ásia virou foco de estudo. Durante uma semana, todos anotaram o que viram nos jornais e ouviram na televisão sobre o Oriente, para compartilhar dúvidas em classe. Depois os alunos participaram de oficinas de origâmis e chapéus típicos de papel-machê e, junto com outros professores, tomaram chá verde em silêncio, como num típico ritual oriental.A cultura negra rendeu estudos sobre tecidos e jóias, com direito a reprodução de estamparias e adereços — devidamente acompanhados de textos explicativos. Neste ano o trabalho recomeçou com os europeus. Mas o grande barato é mesmo o produto final bolado por Célia e seus alunos: a montagem de malas que revelassem todas as culturas estudadas, tal qual um turista que guarda objetos dos lugares que visitou para nunca se esquecer do que aprendeu na viagem.

Quer saber mais?

BIBLIOGRAFIA




Cultura Visual, Mudança Educativa e Projeto de Trabalho, Fernando Hernández, 261 págs., Ed.Artmed, tel. 0800-7033444, 38 reais


Educação para uma Compreensão Crítica da Arte, Teresinha Sueli Franz, 318 págs., Ed. Letras Contemporâneas, tel. (48) 223-0945, 30 reais


Imagens Que Falam, Maria Helena Wagner Rossi, 140 págs., Ed. Mediação, tel. (51) 3311-7177, 24 reais


A Língua do Mundo - Poetizar, Fruir e Conhecer Arte, Mirian Celeste Martins, Gisa Picosque e M. Terezinha Telles Guerra, 197 págs. Ed. FTD, tel. (11) 3253-5011, 37,90 reais


Olhos Que Pintam - A Leitura da Imagem e o Ensino da Arte, Anamelia Bueno Buoro, 252 págs., Ed. Cortez, tel. (11) 3864-0111, 28 reais

Principais tendências da Arte Educação

A roda : Arthur Bispo do Rosário
Alguns anos mais tarde, novas concepções foram sendo construídas, abrindo espaço para a consolidação da perspectiva sociointeracionista, a mais indicada pelos especialistas hoje por permitir que crianças e jovens não apenas conheçam as manifestações culturais da humanidade e da sociedade em que estão inseridas, mas também soltem a imaginação e desenvolvam a criatividade, utilizando todos os equipamentos e ferramentas à sua disposição. Na década de 1990, duas importantes inovações pavimentaram o caminho para o modelo atual: na Espanha, Fernando Hernández defendeu o estudo da chamada cultura visual (muito além das artes visuais clássicas, era necessário, segundo ele, trabalhar com videoclipes, internet, histórias em quadrinhos, objetos populares e da cultura de massa, rótulos e outdoors nas salas de aula). No Brasil, Ana Mae Barbosa formulou a metodologia da proposta triangular (inspirada em ideias norte-americanas e inglesas, recuperou conteúdos e objetivos que tinham sido abandonados pela escola espontaneísta). Ela mostrou que o professor deveria usar o seguinte tripé em classe: o fazer artístico, a história da arte e a leitura de obras (conheça um pouco mais sobre as principais metodologias do ensino da disciplina no quadro abaixo).
Metodologias mais comuns
O ensino de Arte passou por muitas transformações ao longo da história. Confira as principais tendências da área.

TRADICIONAL

Unânime na maneira de ensinar desde o fim do século 19 até a década de 1950. Ainda está presente em muitas escolas.
Foco Aprendizado de técnicas e desenvolvimento de habilidades manuais, coordenação motora e precisão de movimentos para o preparo de um produto final. Estratégia de ensino Repetição de atividades, cópia de modelos e memorização. O professor adota a postura de transmissor do conhecimento. Ao aluno, basta absorver o que é ensinado sem espaço para a contestação. A turma era bem avaliada quando conseguia reproduzir com rigor as obras de artistas consagrados.

LIVRE EXPRESSÃO
Nasceu por volta de 1960 sob a influência das ideias do movimento da Escola Nova. Foco O que importa não é o resultado, mas o processo e, principalmente, a experiência. Há a valorização do desenvolvimento criador e da iniciativa do aluno durante as atividades em classe.
Estratégia de ensino Desenho livre e uso variado de materiais. Não há certo ou errado na maneira de fazer de cada estudante. Ao professor, não cabe corrigir ou orientar os trabalhos nem mesmo utilizar outras produções artísticas para influenciar a turma. A ideia é que o estudante exponha suas inspirações internas.

SOCIOINTERACIONISTA

É a tendência atual para o ensino da disciplina. A ideia de considerar a relação da cultura com os conhecimentos do aluno e as produções artísticas surgiu na década de 1980. Foco Favorecer a formação do aluno por meio do ensino das quatro linguagens de Arte: dança, artes visuais, música e teatro.
Estratégia de ensino A experiência do aluno e o saber trazido de fora da escola são considerados importantes e o professor deve fazer a intermediação entre eles. O ensino é baseado em três eixos interligados: produção (fazer e desenvolver um percurso de criação), apreciação (interpretar obras artísticas) e reflexão sobre a arte (contextualizar e pesquisar). Apesar dessa divisão, não deve haver uma ordem rígida ou uma priorização desses elementos ao longo do ano letivo.
Esse tripé original é considerado uma "matriz" dos eixos de aprendizagem que dominam o ensino atualmente: a produção, a apreciação artística e a reflexão. O "novo" tripé ajuda a desmanchar alguns dos mitos que rondam as salas de Arte nas escolas brasileiras, como a confusão entre a necessidade de ter muito material e estrutura para obter uma resposta "de qualidade" dos alunos (leia mais no quadro abaixo).

O ensino de arte no Brasil

Reisado Pernambucano
Auto natalino, fusão de cenas e cantos de reis com as congadas. Sincretismo também com o próprio bumba-meu-boi, que o admite como um dos seus entremeios. Seus personagens (reis, rainhas, embaxatriz, príncipe, vassalos, etc.)dançando, cantando e dialogando, apresentam os mais garridos trajes – saiotes e capas de cetim, guarda-peito e chapéu com enfeites de espelhos, vidrilhos lantejoulas, perólas muídas e fitas coloridas.
Fonte: http://www.memorialpernambuco.com.br/memorial/paginas/folclore/6folclore_natal.htm



Durante muitos anos, o ensino de Arte se resumiu a tarefas pouco criativas e marcadamente repetitivas. Desvalorizadas na grade curricular, as aulas dificilmente tinham continuidade ao longo do ano letivo. "As atividades iam desde ligar pontos até copiar formas geométricas. A criança não era considerada uma produtora e, por isso, cabia ao professor dirigir seu trabalho e demonstrar o que deveria ser feito", afirma Rosa Iavelberg, diretora do Centro Universitário Maria Antonia, em São Paulo, e co-autora dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) sobre a disciplina. Nas últimas duas décadas, essa situação vem mudando nas escolas brasileiras. Hoje, a tendência que guia a área é a chamada sociointeracionista, que prega a mistura de produção, reflexão e apreciação de obras artísticas. Como defendem os próprios PCNs, é papel da escola "ensinar a produção histórica e social da arte e, ao mesmo tempo, garantir ao aluno a liberdade de imaginar e edificar propostas artísticas pessoais ou grupais com base em intenções próprias."
Infelizmente, ainda há professores trabalhando na chamada metodologia tradicional, que supervaloriza os exercícios mecânicos e as cópias por acreditar que a repetição é capaz de garantir que os alunos "fixem modelos". Sob essa ótica, o mais importante é o produto final (e ele é mais bem avaliado quanto mais próximo for do original). É por isso que, além de desenhos pré-preparados, tantas crianças tenham sido obrigadas ao longo dos tempos a apenas memorizar textos teatrais e partituras de música para se apresentar em datas comemorativas - sem falar no treino exaustivo e mecânico de habilidades manuais em atividades de tecelagem e bordado. Só nos anos 1960, com o surgimento do movimento da Escola Nova, ideias modernizadoras começaram a influenciar as aulas de Arte. Na época, a proposta era romper totalmente com o jeito anterior de trabalhar. Segundo esse modelo, batizado de escola espontaneísta (ou livre expressão), os professores forneciam materiais, espaço e estrutura para as turmas criarem e não interferiam durante a produção dos estudantes. Tudo para permitir que a arte surgisse naturalmente nos estudantes, de dentro para fora e sem orientações que pudessem atrapalhar esse processo. "Achava-se que a criança tinha uma arte própria e o adulto não deveria interferir", lembra Rosa (saiba mais sobre a evolução do ensino da Arte na linha do tempo, no quadro abaixo).
O ensino de Arte no Brasil: panorama histórico
1816 Durante o governo de dom João VI, chega ao Rio de Janeiro a Missão Artística Francesa e é criada a Academia Imperial de Belas Artes. Seguindo modelos europeus, é instalado oficialmente o ensino de Arte nas escolas.
1900 Até o início do século 20, o ensino do desenho é visto como uma preparação para o trabalho em fábricas e serviços artesanais. São valorizados o traço, a repetição de modelos e o desenho geométrico.
1922 Apesar da efervescência das manifestações da Semana de Arte Moderna, o ensino segue as tendências da escola tradicional, que defende a necessidade de copiar modelos para treinar habilidades manuais.
1930 O compositor Heitor Villa-Lobos, no governo de Getúlio Vargas, institui o projeto de canto orfeônico nas escolas. São formados corais, que se desenvolvem pela memorização de letras de músicas de caráter folclórico e cívico.
1935 O escritor Mario de Andrade, então diretor do Departamento de Cultura do município de São Paulo, promove um concurso de desenho para crianças com tema livre. O ganhador recebe uma quantia em dinheiro.
1948 É criada no Rio de Janeiro a primeira "Escolinha de Arte", com a intenção de propor atividades para o aluno desenvolver a autoexpressão e a prática. Em 1971, chega a 32 o número de instituições particulares desse tipo no país.
1960 As experimentações que marcam a sociedade, como o movimento da bossa nova, influenciam o ensino de Arte nas escolas de todo o país. É a época da tendência da livre expressão se expandir pelas redes de ensino.
1971 Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Educação Artística (que inclui artes plásticas, educação musical e artes cênicas) passa a fazer parte do currículo escolar do Ensino Fundamental e Médio.
1973 Criação dos primeiros cursos de licenciatura em Arte, com dois anos de duração e voltados à formação de professores capazes de lecionar música, teatro, artes visuais, desenho, dança e desenho geométrico.
1989 Desde 1982 desenvolvendo pesquisas sobre três ideias (fazer, ler imagens e estudar a história da arte), Ana Mae Barbosa cria a proposta triangular, que inova ao colocar obras como referência para os alunos.
1996 A LDB passa a considerar a Arte como disciplina obrigatória da Educação Básica. Os Parâmetros Curriculares Nacionais definem que ela é composta de quatro linguagens: artes visuais, dança, música e teatro.
Fonte: Parâmetros Curriculares Nacionais / Metodologia do Ensino da Arte, Maria Heloísa C. de T. Ferraz e Maria. F. de Rezende e Fusari / Para gostar de aprender Arte: Sala de aula e formação de professores, Rosa Iavelberg

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A Poética de Paula Sanz Caballero:agulha, linha, tecido e muito humor



A Arte têxtil da designer espanhola Paula Sanz Caballero, que usando agulha , linha e tecidos cria personagens cheio de glamour, estilosos que geralmente ironizam o mundo fashion. Ela aplica em retalhos de tecidos e borda cada cena, depois fotografa, sempre com um toque de bom-humor e criatividade.
Paula Sanz Caballero é formada em Belas Artes, depois decidiu passar o traço bem-treinado para o tecido e criou uma linguagem única e tão inusitada que ganhou de imediato espaço de destaque nas galerias de arte da Europa e dos EUA.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Rosana Paulino e sua poética


Sempre pensei em arte como um sistema que devesse ser sincero. Para mim, a arte deve servir às necessidades profundas de quem a produz, senão corre o risco de tornar-se superficial. O artista deve sempre trabalhar com as coisas que o tocam profundamente. Se lhe toca o azul, trabalhe, pois, com o azul. Se lhe tocam os problemas relacionados com a sua condição no mundo, trabalhe então com esses problemas.No meu caso, tocaram-me sempre as questões referentes à minha condição de mulher e negra. Olhar no espelho e me localizar em um mundo que muitas vezes se mostra preconceituoso e hostil é um desafio diário. Aceitar as regras impostas por um padrão de beleza ou de comportamento que traz muito de preconceito, velado ou não, ou discutir esses padrões, eis a questão.Dentro desse pensar, faz parte do meu fazer artístico apropriar-me de objetos do cotidiano ou elementos pouco valorizados para produzir meus trabalhos. Objetos banais, sem importância. Utilizar-me de objetos do domínio quase exclusivo das mulheres. Utilizar-me de tecidos e linhas. Linhas que modificam o sentido, costurando novos significados, transformando um objeto banal, ridículo, alterando-o, tornando-o um elemento de violência, de repressão. O fio que torce, puxa, modifica o formato do rosto, produzindo bocas que não gritam, dando nós na garganta. Olhos costurado, fechados para o mundo e, principalmente, para sua condição no mundo.Apropriar-me do que é recusado e malvisto. Cabelos. Cabelo “ruim”, “pixaim”, “duro”. Cabelo que dá nó. Cabelos longe da maciez da seda, longe do brilho dos comerciais de shampoo. Cabelos de negra. Cabelos vistos aqui como elementos classificatórios, que distinguem entre o bom e o ruim, o bonito e o feio.Pensar em minha condição no mundo por intermédio de meu trabalho. Pensar sobre as questões de ser mulher, sobre as questões da minha origem, gravadas na cor da minha pele, na forma dos meus cabelos. Gritar, mesmo que por outras bocas estampadas no tecido ou outros nomes na parede. Este tem sido meu fazer, meu desafio, minha busca.Rosana Paulino, 1997

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Anita Malfatti vida e obra



Filha do engenheiro italiano Samuel Malfatti e de Betty Krug, americana, mas de família alemã, foi a primeira artista brasileira a aderir ao modernismo, tendo sido uma das expositoras da mostra, realizada no Teatro Municipal de São Paulo, que fazia parte da Semana de Arte Moderna de 1922.
Segunda filha do casal, nasceu com atrofia no braço direito. Aos três anos de idade foi levada pelos pais a Lucca, na Itália, na esperança de corrigir o defeito congênito. Os resultados do tratamento médico não foram animadores e Anita teve que carregar essa deficiência pelo resto da vida. Voltando ao Brasil, teve a sua disposição Miss Browne, uma governanta inglesa, que a ajudou no desenvolvimento do uso da mão esquerda e no aprendizado da arte e da escrita.
Iniciou seus estudos em 1897 no Colégio São José de freiras católicas, situado à rua da Glória. Aí foi alfabetizada. Posteriormente passa a estudar na Escola Americana e em seguida no Mackenzie College onde, em 1906, recebe o diploma de normalista.
Surge a pintora
Nesse meio tempo faleceu Samuel Malfatti, esteio moral e financeiro da família. Sem recursos para o sustento dos filhos, D. Betty passa a dar aulas particulares de idiomas e também de desenho e pintura. Chegou a submeter-se à orientação do pintor Carlo de Servi para com mais segurança ensinar suas discípulas. Anita acompanhava as aulas e nelas tomava parte. Foi portanto sua própria mãe quem lhe ensinou os rudimentos das artes plásticas.
"Eu tinha 13 anos, e sofria porque não sabia que rumo tomar na vida. Nada ainda me revelara o fundo da minha sensibilidade[...]Resolvi, então, me submeter a uma estranha experiência: sofrer a sensação absorvente da morte. Achava que uma forte emoção, que me aproximasse violentamente do perigo, me daria a decifração definitiva da minha personalidade. E veja o que fiz. Nossa casa ficava próxima da educada estação da Barra Funda. Um dia saí de casa, amarrei fortemente as minhas tranças de menina, deitei-me debaixo dos dormentes e esperei o trem passar por cima de mim. Foi uma coisa horrível, indescritível. O barulho ensurdecedor, a deslocação de ar, a temperatura asfixiante deram-me uma impressão de delírio e de loucura. E eu via cores, cores e cores riscando o espaço, cores que eu desejaria fixar para sempre na retina assombrada. Foi a revelação: voltei decidida a me dedicar à pintura."Anita Malfatti.

Anita Catarina Malfatti (São Paulo, 2 de dezembro de 1889 – São Paulo, 6 de novembro de 1964), pintora, desenhista, gravadora, ilustradora e professora. O início de sua instrução artistísca e cultural foi iniciada por sua mãe, a americana Betty Malfatti, professora de pintura e línguas. Por causa de uma atrofia no braço e na mão direita, Anita transformou-se em canhota, utilizando a mão esquerda para pintar.Em São Paulo, estudou no Mackenzie; na Alemanha, estudou na Academia Real de Belas Artes de Berlim. Em Nova York, teve aulas de pintura, desenho e gravura com diversos artistas na Arts Students League of New York, na Independent School of Art e trabalhava fazendo ilustrações para as revistas Vanity Fair e Vogue.Passou a ser conhecida após uma de suas exposições (organizada por Di Cavalcanti), quando o escritor Monteiro Lobato fez uma crítica destrutiva da artista que quase acabou com sua fabulosa carreira. Após essa época, alterou sua temática, produzindo, naturezas-mortas, retratos, paisagens e cenas populares. No fim da década de 10, em São Paulo, estudou pintura no ateliê do artista plástico Pedro Alexandrino, onde conheceu Tarsila do Amaral. Lecionou desenho na Escola Americana, na Universidade Mackenzie, na Associação Cívica Feminina e em seu próprio ateliê (este frequentado por inúmeros artistas).Ganhou pelo Pensionato Artístico do Estado de São Paulo uma bolsa de estudos em Paris.Fundou com Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Pichia o Grupo dos Cinco, em 1922, e participou da Semana de Arte Moderna. Anos mais tarde, integrou na Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM), na Família Artística Paulista (FAP) e participou do Salão Revolucionário.Em 1942, foi presidente do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo. Sua primeira retrospectiva aconteceu no Museu de Arte de São Paulo, em 1949. Expôs também no 1º Salão Paulista de Arte Moderna e na 1ª Bienal Internacional de São Paulo.Após a morte de sua mãe, Anita se afastou do meio artístico por algum tempo, no entanto, quando regressou oficialmente em uma exposição individual de 1955, a artista apresentou suas obras produzidas nesse período de reclusão. Seu novo tema, era exclusivamente a arte popular brasileira, opção esta, considerada por ela e por diversos profissionais sua melhor e mais pura fase.

Di Cavalcanti : o pintor nacionalista


Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo, mais conhecido como Di Cavalcanti (Rio de Janeiro, 6 de setembro de 1897 — Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1976) foi um pintor, ilustrador e caricaturista brasileiro.
Emiliano Di Cavalcanti nasceu em 1897, no Rio de Janeiro, na casa de José do Patrocínio, que era casado com uma tia do futuro pintor. Quando seu pai morre em 1914, Di obriga-se a trabalhar e faz ilustrações para a REVISTA FON FON. Antes que os trepidantes anos 20 se inaugurem, encontrá-lo estudando na Faculdade de Direito. Em 1917 transferindo-se para São Paulo ingressa na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Segue fazendo ilustrações e começa a pintar. O jovem Di Cavalcanti freqüenta o atelier do impressionista George Elpons e torna-se amigo de Mário e Oswald de Andrade. Em 1921 casa-se com Maria, filha de um primo-irmão de seu pai. Entre 11 e 18 de fevereiro de 1922 idealiza e organiza a Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal de São Paulo, cria para essa ocasião as peças promocionais do evento: catálogo e programa. Faz sua primeira viagem à Europa em 1923, permanecendo em Paris até 1925. Freqüenta a Academia Ranson. Expõe em diversas cidades: Londres, Berlim, Bruxelas, Amsterdan e Paris. Conhece Picasso, Léger, Matisse, Eric Satie, Jean Cocteau e outros intelectuais franceses. Retorna ao Brasil em 1926 e ingressa no Partido Comunista. Segue fazendo ilustrações. Faz nova viagem a Paris e cria os painéis de decoração do Teatro João Caetano no Rio de Janeiro. Os anos 30 encontram um Di Cavalcanti imerso em dúvidas quanto a sua liberdade como homem, artista e dogmas partidários. Inicia suas participações em exposições coletivas, salões nacionais e internacionais como a International Art Center em Nova Iorque. Em 1932, funda em São Paulo, com Flávio de Carvalho, Antonio Gomide e Carlos Prado, o Clube dos Artistas Modernos. Sofre sua primeira prisão em 1932 durante a Revolução Paulista. Casa-se com a pintora Noêmia Mourão. Publica o álbum A Realidade Brasileira, série de doze desenhos satirizando o militarismo da época. Em Paris, em 1938, trabalha na rádio Diffusion Française nas emissões Paris Mondial. Viaja ao Recife e Lisboa onde expõe no salão “O Século” quando retorna é preso novamente no Rio de Janeiro. Em 1936 esconde-se na Ilha de Paquetá e é preso com Noêmia. Libertado por amigos, seguem para Paris, lá permanecendo até 1940. Em 1937 recebe medalha de ouro com a decoração do Pavilhão da Companhia Franco-Brasileira, na Exposição de Arte Técnica, em Paris.
Com a iminência da Segunda Guerra deixa Paris. Retorna ao Brasil, fixando-se em São Paulo. Um lote de mais de quarenta obras despachadas da Europa não chegam ao destino, extraviam-se. Passa a combater abertamente o abstracionismo através de conferências e artigos. Viaja para o Uruguai e Argentina, expondo em Buenos Aires. Conhece Zuília, que se torna uma de suas modelos preferidas. Em 1946 retorna à Paris em busca dos quadros desaparecidos, nesse mesmo ano expõe no Rio de Janeiro, na Associação Brasileira de Imprensa. Ilustra livros de Vinícius de Morais, Álvares de Azevedo e Jorge Amado. Em 1947 entra em crise com Noêmia Mourão - "uma personalidade que se basta, uma artista, e de temperamento muito complicado...". Participa com Anita Malfatti e Lasar Segall do júri de premiação de pintura do Grupo dos 19. Segue criticando o abstracionismo. Expõe na Cidade do México em 1949.
É convidado e participa da I Bienal de São Paulo, 1951. Faz uma doação generosa ao Museu de Arte Moderna de São Paulo, constituída de mais de quinhentos desenhos. Beryl passa a ser sua companheira. Nega-se a participar da Bienal de Veneza. Recebe a láurea de melhor pintor nacional na II Bienal de São Paulo, prêmio dividido com Alfredo Volpi. Em 1954 o MAM, Rio de Janeiro, realiza exposição retrospectivas de seus trabalhos. Faz novas exposições na Bacia do Prata, retornando à Montevidéu e Buenos Aires. Publica Viagem de minha vida. 1956 é o ano de sua participação na Bienal de Veneza e recebe o I Prêmio da Mostra Internacional de Arte Sacra de Trieste. Adota Elizabeth, filha de Beryl. Seus trabalhos fazem parte de exposição itinerante por países europeus. Recebe proposta de Oscar Niemeyer para a criação de imagens para tapeçaria a ser instalada no Palácio da Alvorada também pinta as estações para a Via-sacra da catedral de Brasília.
Década de 60
Ganha Sala Especial na Bienal Interamericana do México, recebendo Medalha de Ouro. Torna-se artista exclusivo da Petite Galerie, Rio de Janeiro. Viagem a Paris e Moscou. Participa da Exposição de Maio, em Paris, com a tela Tempestade. Participa com Sala Especial na VII Bienal de São Paulo. Recebe indicação do presidente João Goulart para ser adido cultural na França, embarca para Paris e não assume por causa do golpe de 1964. Vive em Paris com Ivete Bahia Rocha, apelidada de Divina. Lança novo livro, Reminiscências líricas de um perfeito carioca e desenha jóias para Lucien Joaillier. Em 1966 seus trabalhos desaparecidos no início da deácada de 40 são localizados nos porões da Embaixada brasileira. Candidata-se a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, mas não se elege. Seu cinquentenário artístico é comemorado.
Década de 70
A modelo Marina Montim é a musa da década. Em 1971 o Museu de Arte Moderna de São Paulo organiza retrospectiva de sua obra e recebe prêmio da Associação Brasileira dos Críticos de Arte. Comemora seus 75 anos no Rio de Janeiro, em seu apartamento do Catete. A Universidade Federal da Bahia outorga-lhe o título de Doutor Honoris Causa. Faz exposição de obras recentes na Bolsa de Arte e sua pintura Cinco Moças de Guaratinguetá é reproduzida em selo. Falece no Rio de Janeiro em 26 de Outubro de 1976.

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